sábado, 11 de agosto de 2007

CRASH NA BOLSA em 10 Agosto 2007

Cotadas perdem mais de 3 mil milhões em dois dias

PSI-20 sofre maior queda desde 2004 com todas as cotadas no vermelho

As bolsas mundiais viveram hoje um dia verdadeiramente negro e a praça portuguesa não escapou ao "sell-off" nas acções. O PSI-20 fechou a descer 2,55%, registando a maior queda dos últimos três anos, e no espaço de dois dias o valor das cotadas do índice baixou 3,2 mil milhões de euros. No PSI-20 todas as cotadas fecharam no vermelho e 11 delas desceram mais de 3%.

As bolsas mundiais viveram hoje um dia verdadeiramente negro e a praça portuguesa não escapou ao "sell-off" nas acções. O PSI-20 fechou a descer 2,55%, registando a maior queda dos últimos três anos, e no espaço de dois dias o valor das cotadas do índice baixou 3,2 mil milhões de euros. No PSI-20 todas as cotadas fecharam no vermelho e 11 delas desceram mais de 3%.

A crise que está a assolar o mercado imobiliário norte-americano de alto risco e que culminou ontem com uma injecção recorde de liquidez no sistema financeiro por parte do Banco Central Europeu (BCE) está a provocar um autêntico terramoto nas bolsas mundiais. A autoridade monetária europeia voltou hoje a intervir no mercado e a Reserva Federal também já actuou, comprando activos no valor de 19 mil milhões de euros.

Mas o investidores estão literalmente a fugir dos activos com risco, receando os efeitos colaterais que esta crise poderá ter e a que a intervenção dos bancos centrais evidenciou.

Depois das fortes quedas de ontem, hoje os principais índices voltaram a sofrer desvalorizações acentuadas, com o IBEX [Cot] de Espanha a recuar 2,36%, o FTSE [Cot] londrino a deslizar 3,21%, o CAC [Cot] francês a perder 3,13% e o DAX [Cot] alemão a desvalorizar 1,24%. A origem do problema está nos EUA mas nesta altura os índices americanos até perdem menos de 1%.

Lisboa não foi excepção neste panorama que está a assolar as bolsas mundiais, já que o PSI-20 [Cot] deslizou ontem mais de 1% e hoje recuou 2,55%. Ainda assim, no acumulado deste ano, o PSI-20 está a valorizar 15,27%.

Esta é a primeira vez em dois meses que o PSI-20 cota abaixo da fasquia dos 13.000 pontos e desde 11 de Março de 2004 que não sofria uma queda tão acentuada - nesse dia também recuou 2,55%. Para encontrar uma descida maior terá que se recuar a 15 de Fevereiro de 2003, quando o índice recuou 3,49%.

Durante a sessão de ontem e ao longo de hoje, a perda acumulada pelas cotadas que integram o "benckmark" nacional ascende a 3,23 mil milhões de euros.

Só a Brisa acumulo um saldo positivo (ver tabela em baixo). BCP e Portugal Teelcom desceram mais de 500 milhões de euros.

As "large caps" estão a ser as mais castigadas

Tal como está a suceder lá fora, é o sector da banca que está a pagar a factura mais elevada pela crise que está a assolar o mercado hipotecário. 11 acções do PSI-20 desceram mais de 3% e 15 mais de 2%.

Hoje o Banco Comercial Português [Cot] desceu 3,93% para 3,67 euros, o Banco Espírito Santo [Cot] caiu 1,79% para 15,90 euros e o BPI cedeu 1,22% para 6,50 euros.

As outras duas "large caps" da bolsa nacional, a Portugal Telecom [Cot] e a Energias de Portugal [Cot] sofreram ambas perdas avultadas. A PT, apesar dos "research" positivos, recuou 3,40% para 9,66 euros.

As cotadas menos penalizadas

Todas as 20 cotadas do índice perderam valor, sendo que a Brisa foi a menos castigada. Entre as 54 empresas do PSI Geral só três subiram (Lisgráfica, Vista Alegre e Cires).

A Brisa [Cot] desceu "apenas" 0,3% para 10,07 euros, depois de ontem já ter amealhado um ganho de 0,8%. Além do reforço recente por parte da Capital Partners, a concessionária de auto-estradas está a beneficiar do seu estatuto de papel refúgio em alturas de queda generalizada da bolsa.

Já a Galp Energia [GALP] perdeu 2,3%, mas na sessão de ontem valorizou quase 2%, depois de ter anunciado uma descoberta "significativa" de petróleo no Bloco 14 em Angola.

A origem do problema

Tudo começou com a crise no mercado imobiliário norte-americano que levou ao aumento do incumprimento nos créditos hipotecários do chamado segmento "subprime", crédito hipotecário de risco elevado.

A crise do "subprime", que já dura há várias semanas, tornou-se mais visível depois do BNP Paribas ter anunciado a suspensão dos resgates em três dos seus fundos que investem no mercado hipotecário, alegando que estão subavaliados.

"A completa evaporação de liquidez em certos segmentos do mercado de securitização nos EUA tornou impossível avaliar correctamente os activos, tendo em conta o seu ‘rating’", afirmou o BNP Paribas em comunicado. Há uma semana, o presidente do banco dizia que os problemas no mercado "suprime" eram "absolutamente insignificantes".

A crise do "subprime" levou a um forte aumento no custo do crédito, com os bancos a exigirem taxas de juro muito elevadas para emprestarem dinheiro. A taxa "overnight", utilizada pelos bancos para emprestarem dinheiro entre si, atingiu ontem, em dólares, os 5,86%, o valor mais elevado dos últimos seis anos, e que compara com os 5,35% de ontem.

Em euros, a taxa de juro atingiu os 4,62%, acima da taxa de referência do Banco Central Europeu (BCE) que se situa nos 4% e mais alta que imediatamente a seguir aos ataques do 11 de Setembro.

"Os bancos reagiram a esta decisão do BCE como numa liquidação de um supermercado"

Este disparo nos juros levou o BCE a intervir no mercado financeiro injectando 94,8 mil milhões de euros, o valor mais alto de sempre. Na sequência do 11 de Setembro de 2001, o BCE injectou no mercado financeiro 69,3 mil milhões de euros.

A instituição liderada por Jean Claude Trichet disse mesmo que está disponível para providenciar um montante ilimitado de dinheiro aos bancos assegurando assim a manutenção da liquidez no mercado. A redução da liquidez no mercado interbancário dificulta o acesso dos bancos a fundos de curto prazo.

"Os bancos reagiram a esta decisão do BCE como numa liquidação de um supermercado" e "ficaram com tudo [dinheiro] o que podiam", disse um operador à Bloomberg.

Depois do BCE, outros bancos centrais injectaram dinheiro no mercado. A Reserva Federal norte-americana e o Banco do Canadá não implementaram nenhuma medida de emergência mas disponibilizaram um montante anormalmente elevado para as operações de mercado aberto (24 mil milhões de dólares e 1,55 mil milhões de dólares, respectivamente).

O Banco do Japão (BoJ) adicionou um bilião de ienes (6,19 mil milhões de euros) ao sistema financeiro do país e o Banco da Austrália colocou à disposição dos bancos o valor mais elevado dos últimos três anos.

A queda percentual e em valor das cotadas do PSI-20 em dois dias:

Variação (%)

Valor (€)

BCP

-4,68%

- 650.039.400

PT

-5,11%

- 587.005.120

BES

-4,79%

- 400.000.000

EDP

-2,39%

- 365.653.800

Cimpor

-4,86%

- 241.920.000

Sonae SGPS

-3,81%

- 160.000.000

Portucel

-5,98%

- 138.150.000

Semapa

-8,32%

- 123.065.696

J. Martins

-3,97%

- 113.272.740

BPI

-2,11%

- 106.400.000

S. Indústria

-6,07%

- 89.600.000

M. Engil

-5,30%

- 71.622.495

Altri

-7,81%

- 53.334.216

Sonaecom

-2,82%

- 47.612.097

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